27.2.09

...às vezes eu acho que eu sou amor.

um dia no telefone com uma amiga soltei essa frase, e me senti encontrada. sabe quando voce ouve uma música (ou vê um personagem, um lugar, uma frase) e se acha nessa música (personagem-lugar-frase)? entao. me achei numa frase que eu mesma disse. estava falando das minhas tatuagens, de como quase todas sao sobre amor, de como minha monografia era sobre amor, de como eu gasto tanto tempo/energia com isso (bem como a amiga com quem conversava), e de como isso é, de certa forma, ridículo. aí me lembrei de uma conversa com outra amiga, em que eu disse algo do tipo "ele nao merecia o meu amor", e ela me respondeu "é que ninguém no mundo merece o teu amor, polý". e fez tanto sentido. que eu amo demais nao é novidade. também nao é novidade o fato de que muitas outras mulheres por aí, mundo afora, também amam demais. o que eu acho esquisito é que eu frequentemente amo demais sem ter de fato um alguém para amar. nao é que eu, quando me apaixono por alguém, me entrego demais, amo muito e muito rápido. eu também amo demais quando eu nao me apaixono por ninguém. é quase inexplicável. [permissao para ser cafona] eu ando por aí respirando amor, exalando amor por cada poro do meu corpo [/permissao cafona], e de quem é esse amor? meu. até que apareça alguém que se transforme em objeto do meu amor (alguém que provavelmente nao merece essa quantidade incabível de amor acumulado, porque ninguém no mundo merece), eu fico vivendo nesse amor constante que nao tem sentido nenhum. e nao é nem amor-próprio, é só...amor. amor sem sentido. às vezes acho que sou extremamente desequilibrada (e evidentemente exagerada). e às vezes eu acho que eu sou amor.

19.2.09

ame-o e/ou deixe-o

nunca fui patriota. e sempre estive tao longe disso que nunca cheguei nem a entender muito bem a idéia. sempre gostei da minha* cidade, mas também sempre tomei isso por natural: nasci aí, cresci aí, pra mim o mundo era o que sao paulo me apresentava. claro, também já tinha viajado consideravelmente pelo país, o que me salvava de me fechar tao estupidamente nessa bolha paulistana, mas é inevitável esse acostumar-se, já que aí vivi sempre, e isso é o que me foi apresentado como natural. o ritmo, a concepçao de cidade, de diversao, de céu, de barulho, de noite: esse tipo de coisa é o que cresce com a gente sem que nos demos conta. e junto com isso vem o amor pela cidade: cresci amando minha cidade, tomando por natural o que ela me apresentava, e gostando do que recebia dela, sem perceber: sempre foi tao natural aquilo tudo, que nunca pude perceber o meu amor por sao paulo. com o país, a situaçao é ainda mais esquisita. meu* país é tao grande, tao múltiplo, tao inexplicavelmente heterogeneo, que nunca vi muito no que pudesse me agarrar para realmente sentir qualquer tipo de patriotismo, de amor. o clima nao é único, a geografia nao é única, nem a língua é exatamente única. só que talvez esse sentido de multiplicidade, de um brasil que reúne vários brasis, seja justamente o especial, o apaixonante, o amável e o que faz do país digno de patriotismo. e, assim como com a cidade, nunca pude perceber isso, por estar tao inevitavelmente acostumada com essa idéia de país. e, de fato, nunca pude nem perceber quao grande meu* país realmente é, nunca tive suas dimensoes reais, talvez por nunca ter precisado compará-lo com nada. mas uma vez longe de tudo isso, do país, da cidade, da língua, tudo-isso se faz um pouco mais claro, porque me vejo diante de algo realmente distinto (ainda que tenha muitos pontos em comum, algo inevitável nos dias de hoje), e nao menos belo ou menos digno de amor, mas que me lembra do que é único de cada lugar. o sentimento de pertencimento é, sem dúvida, algo bastante mutável e importante para possibilitar o amor e a permanencia em um lugar, mas há também um sentimento específico de pertencimento ao país e à cidade onde nascemos e crescemos, e esse é imutável e quase incondicional- e acho que isso é a essencia da idéia de patriotismo: se sentir pertencente a um país, independentemente do quando se goste racionalmente dele. e, no meu caso, só foi possível perceber isso depois de um ano afastada de minha cidade e do meu país.
* acho que o simples dizer "meu país" e "minha cidade" já indica algum sinal de amor patriota, nao?