24.10.09

fim da linha

eu estava lá, um braço esticado pra cima, num esforço pra me segurar e não cair com o movimento. eles foram entrando, silenciosos pra mim e pra minha música, mas ocupando todo espaço que podiam. fui sendo empurrada, um empurrão nada sutil, em direção ao que eu agora percebia ser uma camisa de uma textura tão óbvia, de listras discretas, verdes e brancas; a camisa era tão óbvia que nem tinha ninguém por baixo dela, pra mim era só uma camisa. tive que me ajeitar: ou não caberíamos todos. dei um passo pra direita do melhor jeito possível, e quando fui mover o braço (aquele que não estava me sustentando), senti: um paletó de um terno, olhei: azul marinho. minha mão estava dentro dele, tentando ao máximo não tocar na camisa, que, essa sim, tinha alguém dentro. tirei minha mão de lá, rapidamente, sem nem pensar nas alternativas: era tão constrangedor ter minha mão invadindo, assim, o terno de alguém! olhei pro outro lado, me distraí com a música, com a textura daquela primeira camisa, com qualquer coisa possível. mas tive que olhar de novo, e olhei. a parte de baixo daquele paletó, a parte que deveria cobrir a barriga, a parte na qual minha mão tinha entrado, estava agora virada pra fora, errada, desconfortável. precisava voltar pra posição original, e aquela responsabilidade era minha. mas se invadir o terno uma vez já tinha sido constrangedor, tocá-lo de novo, dessa vez intencionalmente, era impensável. tive que aguentar aquela ponta dobrada de paletó, tão errada, tão fora de lugar.

2 comments:

Nah Safo said...

que imagético!

gostei.

Soren Lorensen said...

Minha vida é isso aí, desarrumar coisas que estão bem e me sentir culpado sem fazer nada.