29.8.10

auto-retrato para _______

queria te dar de presente minhas (poucas) pintas, minhas tatuagens, minha pele excessivamente branca e até minha olheira excessivamente funda. te daria minhas pernas e minhas costas, meu cabelo embaraçado, meus piercings tortos e enganchados, minhas unhas feitas, o cantinho do meu sorriso. e ouso dizer: se eu tivesse sardinhas, te daria elas também.

mas eu travo

eu queria te dizer algo, te escrever algo, te desenhar, te descrever. aí olho pras tuas mechas de cabelo caindo separadas pelo meu travesseiro, e as palavras me faltam todas, as linhas me fogem, eu me perco no não-conseguir que vem com o carinho que separa cada fio do teu cabelo. e eu sei que sou chorona, mas preciso dizer mesmo assim: às vezes tenho que conter uma lágrima.

26.8.10

e não preciso de mais nada

não quero que ninguém saiba dos teus olhos, das tuas pintas, da tua risada incontida, de como você fica quando está envergonhada. não quero que saibam das tuas curvas, da tua temperatura, da textura da tua pele, do suor nas tuas mãos. que o teu cabelo desarrumado, teu sorriso tão de-verdade, teus carinhos tão suaves, tudo isso é meu, e só é assim tão lindo porque é meu- então não é disso que eu quero falar. isso eu quero guardar e deixar guardado naquela parte de mim em que só cabe você. quero falar de como eu passo o dia esperando as horas passarem pra chegar a hora em que você chega. quero contar que, também, quando você chega meu coração ainda dispara, como se eu ainda tivesse medo de encostar em você. mas que aí quando encosto, quando te abraço e você continua lá, posso respirar fundo sabendo que todas as horas de espera valeram a pena, por aquele simples instante em que eu pude te abraçar, te sentir, e saber: nunca tive algo tão bom.

atrasada

estou com medo e a minha insônia é você: minha pele é fria demais.

14.8.10

tempo fora de lugar

quando o mundo se desencaixa não há festa, amigos, cerveja, pizza, sexo ou bolo de chocolate que resolva: é trabalho pro tempo curar as esquisitices de uma fase fora de lugar. mas que tempo complicado esse de esperar o tempo passar e se sentir tão perdida no tempo-espaço que a única vontade genuína é entrar debaixo de uma cabaninha de edredon em alguma outra dimensão, e sair de lá só quando os ares tiverem mudado: quando os tempos forem outros.

11.8.10

sobre como os acasos mudam meu lugar no mundo

porque tudo que se sentia antes de conhecer alguém se distancia a partir do momento que você conhece a pessoa e tudo muda na sua vida: os sentimentos de antes chegam a ser inacreditáveis. por exemplo, naquela mesa de bar, conversávamos sobre um monte de sentimentos e chatices da vida, e eu, incrédula, falava de como parecia impossível que eu saísse daquela posição em que estava e voltasse a sentir algo bom por alguém que merecesse. dez minutos se passam, e eu desisto de ir embora do bar, simplesmente porque alguém ali, só de chegar, me convenceu a ficar- naquele exato instante tudo que eu vinha dizendo antes se anula, e daí pra frente eu não consigo nem lembrar de como era quando eu me sentia daquele jeito, naquela mesa de bar, antes daquela pessoa chegar. parece besta, coisa de filme, de livro, de historinha óbvia de amor. mas é assim mesmo, uma junção de inúmeros e incontáveis acasos, talvez algum percentual de inevitável, e quem sabe também um pouco de como nós nos colocamos no mundo: tudo isso, alguma equação indecifrável, mais um tanto de coisas que nunca saberemos, e agora estou apaixonada (como se um segundo sozinho mudasse a vida de uma pessoa).

5.8.10

na fila do pão

gosto tanto de você que chega a ser constrangedor quando alguém flerta comigo: tenho vontade de olhar pra pessoa e dizer "vê bem a minha cara de apaixonada e me diz se você realmente acha que tem algum espaço pra você em mim."