24.12.11

sobre o medo e o horror

ontem eu li esse texto, que algumas pessoas do meu facebook compartilharam. coincidente e terrivelmente, nessa mesma noite eu passei por algo muito parecido, e muito horrível. fui a uma festa com minha namorada, e quando estávamos esperando o farol fechar para atravessar a rua, dois caras passaram por trás de nós, e um deles passou a mão na minha bunda. não sem querer, não de leve, não superficialmente. ele posicionou a mão dele na parte de baixo da minha bunda, pressionou, e escorregou ela pra cima. com toda a intenção. fiquei atônita e horrorizada, e olhei pro cara, que continuou andando e virando pra trás para me olhar com uma cara ameaçadora (porque ele deve ter achado que o abuso sexual não foi suficientemente intimidador). não consegui fazer nada. contei pra minha namorada, fiquei em choque, e parte da minha noite foi arruinada porque não consegui pensar em outra coisa por algum tempo. eu estava usando um vestido curto e sandálias de salto alto, e a festa era na rua augusta. a primeira coisa que várias pessoas pensaram e provavelmente pensarão ao saber disso, é "você estava pedindo". esse pensamento, além de machista, horrível, e ilógico, é gravíssimo. eu não estava pedindo. eu não queria a mão de ninguém no meu corpo. eu estava com a minha namorada, que é a única com quem tenho relação de CONSENSUALIDADE. com aquele cara não houve consenso, e me desespera que pensem que houve. o comprimento do meu vestido não tem absolutamente nada a ver com consenso. roupa não é convite. salto alto não é sinônimo de sim. o jeito como eu me visto não faz de mim menos digna de respeito. e pra mim isso é tão óbvio, que não consigo compreender o raciocínio por trás desse argumento de quem culpa a vítima pela agressão. o culpado é sempre o agressor. "ah, mas você estava na rua augusta"; é, eu estava. um lugar super movimentado, cheio de bares e baladas e restaurantes e lugares abertos a noite toda. e mesmo se eu estivesse em um beco escuro e isolado, isso nunca deveria ser um argumento. o ideal é que possamos ser respeitad@s independente de onde estamos. que o fato de ser mulher não signifique viver com medo e tratando de se proteger. não, eu não iria a um beco escuro e isolado usando aquela roupa (ou qualquer roupa que seja, aliás), porque eu tenho medo. e sim, eu busco me proteger. mas me entristece e desespera ter que me proteger e sentir medo de simplesmente estar em algum lugar, ou vestindo determinada roupa. e olha, eu adoraria poder dizer "machista escroto, eu não tenho medo de você"; mas eu tenho sim. como tive medo ontem, e fiquei paralisada. como me senti e me sinto impotente sempre que sou atacada com comentários machistas ou homofóbicos. eu sinto muito medo. o que eu posso dizer, sim, é: o medo não vai me paralisar. engolir os acontecimentos é perpetuá-los.