4.1.12

sobre ir-voltar

achei que ia doer mais. não foi tão difícil quanto era esperado, e isso me é contente e estranho. pra mim estava sendo um big deal. só de pensar nisso, me contorcia, o estômago apertava, a garganta fechava, eu chorava. não sei se de medo, saudade, ou alegria. eu estava aterrorizada. com que? não sei. eu achava que ao sair do avião alguma coisa enorme ia acontecer dentro de mim, algum trimilique, alguma reação estranha. que ao andar por aquelas ruas, tudo ia doer um pouco e os recuerdos iam me devorar pouco a pouco a cada dia que eu estivesse lá. a idéia de passar na frente das minhas casas- meu deus! porque se de lembrar de coisas mínimas eu entrava num choro e num desconsolo e num frio na barriga, ao ver essas coisas quem sabe o que poderia me acontecer? mas não. nada disso aconteceu. não foi um big deal, ou pelo menos não no sentido que eu imaginava. andei pelas ruas e não senti aflição nenhuma. não senti medo, não fui tomada por memórias arrebatadoras, não entrei em transes. passei pelos mesmos bairros, pelos mesmos caminhos, comi as mesmas comidas (não todas, porque algumas já não existiam- e eu nem me desesperei com isso!), falei a mesma língua, usei a mesma moeda, vi as mesmas paisagens, e respirei os mesmos ares. e não me doeu. não me doeu nem me arrebatou nem nada de maluco e intenso desse tipo. passei na frente das minhas casas e - sim - foi estranho, e eu não consegui processar muito bem esse contato, mas não foi difícil nem doloroso. ir-voltar foi gostoso, agradável, diferente, e tranquilo. foi leve e bonito. e isso, sim, é imenso e tremendamente importante.

isso não é um post de ano novo.

ou talvez até seja. esse ano (e com esse me refiro ao passado, porque o atual de fato ainda nem existe) não consegui escrever nem pensar muito sobre o ano que passou. não sou diferente da maioria, faço balanços e retrospectivas mentais, escrevo sobre coisas que me aconteceram, penso no que ganhei, no que mudou, no que construí, no que quero mudar. mas esse ano não deu. simplesmente não aconteceu. não sei se porque o ano me doeu demais ao fim e ao cabo e então preferi só deixar ele passar. não sei se porque estava cansada e quando começaram minhas férias tudo que eu queria era tomar sol e cerveja. consegui pensar/escrever sobre temas específicos, que me ocupavam e afligiam. mas não sobre o meu ano. e o ano acabou, quando parecia que isso nunca ia acontecer. ao passo dos anos, os anos passam cada vez mais rápido, e daqui a pouco só vamos ter um intervalo de quinze dias entre um natal e outro. mas esse ano, depois de correr e sumir, parou. em meados de outubro, decidiu não acabar nunca mais. depois de ter me exaurido ao máximo, tirado cada fiapo de energia, tempo, vontade, coragem que tinha em mim (depois de ter tirado tudo que tinha em mim), depois de ter me deixado em frangalhos, o ano decidiu que ainda não queria acabar. parece que foi só pra me ver rastejar até dezembro. mas acabou, e eu tenho, como em todos os anos, coisas pra lembrar, pensar sobre, escrever, desenhar, anotar, revisitar. tenho coisas pra mudar e coisas pra manter, e enfim, a vida é isso aí. mas o mais importante é que o ano acabou, sim, e eu to viva e tal e coisa. já mais descansada e quase pronta pro próximo (e ainda tenho 11 dias de férias, yay!). então sim, feliz ano novo!- porque o velho já deu o que tinha que dar.